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sábado, 8 de março de 2014

VISITAS PELO ELEVADOR DE SERVIÇO?

Para abrir a série "Crônicas da Classe Média Paulistana" - 


Os apartamentos são amplos, é verdade, aconchegantes, dois por andar, dezesseis no total, e o prédio é bastante bem localizado, bairro nobre da zona Oeste da cidade, mas sem arroubos de luxo. Longe disso. O edifício é habitado por típicos e legítimos representantes da classe média, a tradicional, aquela das antigas. São duas garagens por família - mas algumas têm três carros, óbvio, é necessidade fundamental, uns possantes de grife e nomes que sou incapaz de repetir. Na reunião de condomínio, grita-se, quase que em samba de uma nota só, com única voz de resistência (devidamente chamada de "radical", só faltou o "baderneira"), por "mais e mais e mais segurança". Se pudessem, muravam, cercavam, eletrificavam, construíam torres, instalavam circuito interno com 448 câmeras, abriam um fosso e lá colocavam uns jacarés bem famintos. Versão pós-moderna dos castelos medievais. Fortalezas. Ou não. Para garantir toda essa proteção, aceitam pagar quase o dobro do valor original do condomínio. É o preço a bancar para manter os desagradáveis diferenciados bem longe daqui. Ou não. Repentinamente, um desavisado distraído e impertinente resolve sugerir que, no período noturno, o elevador social seja desligado, para concentrar operações de subida e descida no outro e economizar energia. Um cretino! Que ideia estapafúrdia é essa? Indignada, a dondoca não se faz de rogada: "mas como assim? Então vou ter que receber minhas visitas pelo elevador de serviço?". 


Marilena Chauí: "A classe média é uma abominação política, porque é fascista; é uma abominação ética, porque é violenta; e é uma abominação cognitiva, porque é ignorante. Fim".

MAIO 2012

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